Kerpimanha

Kerpimanha

Depois de um longo dia de trabalho na cidade de São Paulo, Cauê chegou em casa, tomou um banho, jantou uma comida leve feita basicamente de salada, foi ao banheiro, escovou seus dentes e em seguida se deitou em sua cama para dormir para no outro dia começar novamente bem cedo a sua labuta da vida na cidade grande.

No entanto, assim que, em dentro de alguns minutos Cauê adormeceu profundamente, teve um sonho. Sonhara que no céu havia uma velha toda vestida de branco e com cabelos esvoaçantes, pele dourada e olhos verdes, embarcava em uma viagem junto aos raios de uma estrela brilhante e descia do céu até a terra no raio estelar; foi quando Cauê viu de sua cama uma luz azulada muito brilhante se fazer no tento de seu quarto e atingir o seu coração, e por ela vindo calmamente àquela senhora misteriosa sorrindo gentilmente para Cauê.

Assim que a senhora entrou no coração de Cauê, este sentiu sua alma se desligar parcialmente de seu corpo e, se levantando calmamente da cama sobre o seu corpo, posicionou-se ao lado da cama e, ficou ali por alguns segundos, admirado com o fato de estar fora de seu próprio corpo enquanto o observava nitidamente dormindo em sua cama.

Quando olhou para o outro lado da cama, Cauê viu a senhora com olhar adocicado e leve olhar fixamente para ele enquanto sorria. Ela então estendeu sua mão direita em direção à Cauê e este, absolutamente confiante naquela senhora misteriosa de cabelos esvoaçantes, deu-lhe a sua mão esquerda e, de repente ela olhou para o teto do quarto e Cauê, acompanhando o seu olhar, viu o teto se abrir magicamente e por ele entrar um raio de luz azul muito brilhante e então a senhora misteriosa e ele simplesmente entraram naquele raio e começaram a flutuar calmamente; Cauê primeiro viu o telhado de sua casa, segundos depois, viu do alto o seu bairro, depois toda a cidade de São Paulo e, por fim, viu todo o planeta terra do espaço sideral.

Absolutamente espantado com sua visão privilegiada do planeta azul, Cauê ficou a olhar fixamente a terra encantado com a sua extrema beleza quando vista do alto. Ali ficou oque lhe parecia alguns segundos e, de repente, viu a luz azul brilhante estelar raiar do espaço até a terra e a senhora, segurando sua mão esquerda, entrou com ele na luz e ambos flutuaram calmamente até a ver do alto toda a cidade de São Paulo, depois todo o seu bairro e em seguida o teto de sua casa e, por fim, viu-se adentrar em seu quarto sendo levado por aquela senhora que o colocou em seu próprio corpo como se coloca um bebê em seu berço e, em seguida, viu aquela mesma senhora sair de dentro de seu coração e pegar a luz brilhante da estrela que transpassava pelo teto do quaro e, de repente, desaparecer no ar. De repente Cauê ouviu um barulho estranho e, quando acordou, se deparou com o despertador tocando; já eram 6 h da manhã estava na hora de Cauê sair de casa para mais um dia de trabalho.

Kilaino

Kilaino

No Mato Grosso, um grupo indígena do tronco Caribe, que formam dois núcleos sem intercomunicação, onde um está em contato com o homem branco bem às margens do rio novo e Paranatinga, enquanto o outro vive completamente isolado às margens do rio Batovi e Culiseu, elegeu cada um o seu melhor caçador e ambos, um de cada tribo, saíram certo dia para caçar, sem, no entanto, saberem que saíram juntos para o mesmo propósito.

Armados com arcos e flechas e zarabatanas com pontas molhadas em veneno de sapos bufo e spallanzani, se embrenharam no meio da mata com o propósito de trazerem o almoço para sua tribo. Certo momento da caçada, no entanto, começaram, cada um de seu lado da aldeia, a encontrar ao chão centenas de ratos e passarinhos mortos, um se deparou com diversos ratos mortos na mata e o outro com diversos passarinhos estrebuchando no morro. Ambos ficaram muito espantados e assustados com aquilo, pois, apesar de ser caçadores experientes, nunca haviam visto algo igual e pensaram que, para ter tantos ratos e pássaros mortos, com certeza era algum bicho ou ser muito poderoso que eles nunca haviam ouvido falar. Mesmo com medo, ambos continuaram sua caçada, pois não podiam de forma alguma voltar de mãos vazias para a tribo.

Minutos depois, ambos, cada um de um lado da floresta, começaram a ouvir um barulho estranho vindo da mata, armaram-se um com o arco e flecha e o outro com a zarabatana e, mesmo sem saber oque era que estava fazendo aquele barulho estranho, atiraram e, de repente, viram surgir, um urso polar, e o outro, um rinoceronte que correram no meio da mata e desapareceram. Ambos ficaram completamente apavorados, pois como era possível que aqueles bichos estivessem na floresta amazônica no Mato Grosso. Eram animais estranhos a eles e lhes pareciam ser de outras regiões do mundo e não do Brasil. Com muito medo, mas com mais medo ainda de voltarem sem o almoço para a tribo, continuaram a caçada e, tempos depois, deram um grito no meio da mata cada um em seu ponto para se certificarem da presença de alguém ou algum animal, e ambos, cada um de seu lado, ouviram a resposta de seus gritos com outro grito agudo e jamais ouvido por eles.

Os índios então seguiram em frente em busca do ser que havia gritado na mata respondendo seus gritos, mas, no caminho, ambos encontraram, um sua flecha e o outro sua zarabatana, espantados, não compreenderam como era possível que elas estivessem ali caídas ao chão enquanto eles a tivessem atirado para o lado oposto quando encontraram aqueles dois bichos estranhos no meio da mata, e ambos sabiam que as munições eram suas porque estavam marcadas com seus símbolos de identidade. Assustados pegaram suas munições, guardaram-nas consigo e seguiram em frente, mas com o medo percorrendo em suas veias e um frio na espinha.

Tempos depois ouviram novamente aquele grito estranho e agudo como se fosse para eles um chamado e, ambos correram em sua direção; foi quando de repente, cada índio de um lado oposto, mas já próximos, viram a mata se mexer, se prepararam para atirar, um a sua flecha e o outro a sua zarabatana, cada um de um lado, mas ainda sem se perceberem e, assim que viram sair do meio da mata uma fumaça negra muito estranha e com uma aparência maléfica, atiraram em sua direção cada um com sua arma de caça e viram, um a sua flecha atravessar a fumaça e o outro a sua zarabatana e, cada um em seu ponto da mata, mas próximos, separadas somente por um arbusto denso e a misteriosa fumaça negra, viram ressurgir do meio da fumaça, um flecha e o outro uma zarabatana e, assustados e espantados, não tiveram como reagir, olharam fixamente como que em câmera lenta aquele instrumento pontiagudo vindo em suas direções e, o índio que atirou a flecha, viu a zarabatana entrar em seu olho esquerdo e o índio que atirou a zarabatana viu a flecha entrar em seu olho direito e, de forma absolutamente sincronizada, caíram mortos um de cada lado e sem saber que ambos haviam se matado enganados por Kilaino (o irmão maligno do Curupira, seu inimigo, que luta pelo bem), que é um ente que habita a floresta e tem o poder de tomar formas diferentes; e este, vendo-os mortos, tomou sua forma original de um homenzinho de pele amarronzada, os pés voltados para trás para enganar os caçadores, e cabelo de fogo, em seguida soltou uma gargalhada de prazer e sumiu na mata.

 

A Pedra Iapinari

pedra

Mesmo sendo virgem ela estava grávida e já gritando às dores do parto dera à luz a um filho chamado Iapinari que nasceu forte e cheio de vigor, no entanto, cego, mas um dia Iapinari esfregara seus olhos e, de repente começara a enxergar. O menino cresceu e se tornou músico, um grande tocador de membi, viajou o mundo e se tornou famoso.

Certa noite sua mãe voltava do trabalho para sua casa e foi parada por uma senhora misteriosa que, pegando a sua mão direita, olhou-a e depois disse como se já a conhecesse há anos.

− O menino foi abençoado por Deus, por isso, mesmo nascendo cego, tempos depois esfregou os olhos e começou a enxergar.

A mãe de Iapinari ficou boquiaberta com o que aquela senhora misteriosa com um vestido de seda branco, cabelos grisalhos esvoaçantes, olhos negros e hálito adocicado acabara de lhe dizer. Era com se ela a conhecesse durante toda a sua vida, mas ela nunca havia visto aquela mulher antes. Então lhe perguntou:

− Mas como a senhora sabe de tudo isso?

− Ora minha querida, eu apenas sei. Mas preste atenção, pois eu ainda não terminei. Se algum dia você revelar a outra pessoa o que fizera seu filho enxergar mesmo depois de ter nascido cego, ele tornará a cegar. Portanto, o segredo da esfregada nos olhos e a benção de Deus deve ser guardado a sete chaves e jamais revelado a quem quer que seja.

Enquanto a mãe de Iapinari olhava fixamente para aquela senhora misteriosa a falar todas aquelas coisas, se distraiu com um leve barulho atrás de sie olhou, mas quando voltou seu olhar para frente a senhora misteriosa havia simplesmente desaparecido. A mãe de Iapinari guardou as palavras da senhora e trancafiou seu segredo em sete chaves.

No entanto, anos depois a mãe de Iapinari conhecera um homem bonito e garboso, muito sedutor e charmoso e por ele com o tempo se apaixonou e, com a intimidade da convivência, contando sobre sua vida e a vida de seu filho, acabou revelando ao seu amante o segredo da benção de Deus manifesta através da esfregada que seu filho dera em seus olhos fazendo-o enxergar mesmo depois de ter nascido cego.

Naquele exato instante em que o segredo do milagre de Deus fora revelado àquele homem com o qual a mãe de Iapinari estava completamente apaixonada, o rapaz sentiu do outro lado da cidade onde estava com seus amigos, a sua visão simplesmente ir embora aos poucos; ele esfregou novamente os olhos e de novo e de novo, mas sua vista estava cada vez mais embaçada. Resolveu então ir embora para sua casa e, com bastante dificuldade, batendo em alguns postes e árvores durante o caminho de casa, quando, em fim, em sua residência ele chegou, já estava completamente cego de novo e, desesperado e chorando assustadoramente, sua mãe ouviu seu lamento e correu até a porta e, quando a abriu, viu seu filho tateando com as mãos procurando a porta de entrada de sua casa. Naquele instante sua mãe se lembrou daquela velha senhora misteriosa que havia lhe dito que, caso o segredo do garoto fosse revelado, ele tornaria a ficar cego. Ela então se sentindo culpada começou a chorar junto com o filho pedindo-lhe perdão, mas ele, como nunca ficara sabendo da existência daquela senhora misteriosa e muito menos do que ela havia falado à sua mãe, ele nada compreendeu e disse à sua mãe que ela não tinha culpa nenhuma, ele simplesmente havia ficado cego do nada.

Iapinare passou a noite toda chorando copiosamente em seu quarto e, num ato desesperado, saiu pelas ruas da cidade durante a madrugada fria, úmida e sombria iluminada somente pela lua cheia e, se dirigindo até a ponte sobre o rio que cortava a cidade, se jogou de lá de cima até às profundezas das águas do rio negro no amazonas, e acabou sendo transformado em um imenso rochedo que até os dias de hoje pode ser visto cortando o rio negro e, no por do sol, forma uma imagem específica cujo ângulo da pedra com o sol por trás caindo ao horizonte das águas do rio negro parece o olhar do próprio Deus. A pedra Iapinari fica entre as cachoeiras de Tucunaré e Uaracapuri. Reza a lenda que se um cego de nascença como Iapinari tocar a pedra ele milagrosamente será curado e irá enxergar.

A Misteriosa Ilha do Cavalo Marinho

Cavalo Marinho

No município de Parnitins, no interior do Estado do Amazonas, existe um rio chamado Uaicurupá, cuja lenda milenar que vem desde os índios até o homem branco, é de que no cimo da colina existe um lago que é habitado por um grande peixe com forma de cavalo. Desta lenda surgiu o nome da ilha. Os moradores da região sentem tanto terror deste monstro que, até hoje, ninguém foi capaz de subir a colina e verificar a existência deste lago por medo de que lá de fato exista um monstro peixe com forma de cavalo.

No entanto, ao ouvir falar desta lenda, um antropólogo da Universidade Federal do Amazonas resolveu criar uma expedição de verão junto com dois alunos seus para verificar a veracidade deste lago e os fundamentos desta lenda na misteriosa ilha do cavalo marinho, a qual até então ninguém havia explorado por medo do monstro lendário.

O professor e seus dois melhores alunos foram até a ilha e, lá chegando, pararam algum tempo em uma aldeia indígena próxima para registra a estória da ilha contada pelos habitantes mais próximos dela, já que ela mesma está completamente deserta por ser fonte de um imenso terror para todos na região. Quando o professor contou ao cacique que eles iriam subir a colina da ilha e investigar a existência do monstro com corpo de peixe e cabeça de cavalo, os índios ficaram espantados com sua coragem e lhe deram alguns objetos de presente para se protegerem do monstro. Entre os objetos estava uma zarabatana, uma faca e um arco e flecha.

No meio da tarde, por volta de meio-dia, o professor e seus dois alunos seguiram em frente para explorar ao máximo a ilha e, no meio do caminho em direção ao alto da colina, encontraram resíduos de ossos, escamas, cabelos e penas. Aquilo de fato os espantou, pois quem havia deixado tais rastros se a ilha era completamente deserta e inabitada por causa da aura de terror que existia sobre ela? Naquele instante o professor ficou realmente com a pulga atrás da orelha e sentiu lá no fundo de sua alma certo temor e tremor pela expedição que estava realizando com seus dois alunos prediletos. Mas o professor deu de ombros e seguiu em frente com sua investigação. Mais a frente, o professor encontrou uma quantidade significativa de fezes espalhadas pela ilha, fezes que, com certeza era de algum animal bem grande. Ele então coletou uma amostra do material e seguiu em frente rumo ao alto da colina.

Às 4 h da tarde o grupo chegou, em fim, ao alto da colina e, para sua completa surpresa, de fato existia ali o lago descrito na lenda. Era um grande lago transparente e meio azulado, a sensação que o professor e seus alunos tiveram quando se depararam com aquele lago foi de que não estavam no planeta terra, de tão belo e sombrio que era aquele lago lendário. Em suas águas dava para se ver dezenas de peixes jamais vistos em outro lugar, peixes que sequer haviam sido catalogados até o momento. Eles ficaram ali sobre a colina a observar encantados aquele lago transparente e azul; durante horas tiraram fotos de todo o lago e seus arredores, e, como esperavam, não encontraram ali nenhum monstro, então fizeram piada da lenda e prepararam um lugar para acampar, em seguida acenderam um fogo para espantar os pernilongos e animais peçonhentos e se aquecerem do frio que faz na ilha durante a noite.

Depois de estudarem as fotos que haviam tirado durante o dia, eles foram dormir para continuar sua investigação no dia posterior. No entanto, às 3 da madrugada o professor acordou com um barulho estranho vindo do lago; um barulho como o de uma onda que se seguia repetidamente e batia contra as pedras da colina. Assustado com aquele barulho, o professor abriu a barraca onde estava acampado e saiu a caminhar nos arredores do lago. Depois de alguns minutos caminhando e nada encontrado de estranho, o professor pensou que talvez tivesse tido um sonho. Então começou a caminhar em direção a sua barraca. Todavia, quando estava já próximo do acampamento, o professor viu o lago criar uma onda considerável e ouviu as águas baterem contra as pedras da colina. Tomou um susto e então gritou chamando seus dois alunos para verem aquilo. Assim que eles se aproximaram do lago, os três se agacharam e ficaram algum tempo em um silêncio assombroso enquanto olhavam fixamente para o lago. Foi quando de repente eles viram submergir das profundezas um grande monstro peixe com forma de cavalo, e, completamente apavorado, caíram sentados os três na grama a olhar com olhos arregalados aquele monstro abrir sua boca cheia de dentes afiados e, em um segundo, devorá-los vivos.

Gorjala

Gigante

Um casal de Juiz de Fora foi acampar na serra de Ibitipoca. Viajaram de carro pela manhã e, no fim da tarde chegaram até o parque de Ibitipoca. Lá montaram acampamento e se sentaram do lado de fora da barraca junto ao fogo enquanto tomavam chocolate quente, fumavam maconha e namoravam a luz da lua cheia. Era época de baixa temporada e eles estavam sozinhos no camping do parque nesta noite.

Resolveram então dar umas voltas pelo interior do parque e ir até uma de suas cacheiras de águas gélidas e negras. Tentaram entrar na água, mas ela estava muito gelada, então desistiram de se banhar e resolveram ficar a beira da cachoeira fazendo amor sob a luz. Depois de se amarem acenderam outro baseado e ficaram ali a observar a lua e a ouvir o som das águas negras da cachoeira.

Meia hora depois começaram a ouvir barulhos estranhos vindo da mata; pareciam passadas grandes, mas como estavam sobre efeito de maconha, pensaram estar viajando e não levaram aquele barulho estranho a sério e continuaram abraçados a observar a lua. Foi quando de repente ouviram novamente os passos no meio da mata, mas desta vez estavam mais intensos e mais próximos; desta vez perceberam que não era uma alucinação causada pela maconha, ambos estavam ouvindo os mesmos passos vindos em sua direção e, sob a luz da lua, viram bem ao longe o mato ser rebaixado como se alguém imenso estivesse pisando sobre ele. Assustados, juntaram suas coisas e começaram a andar em direção ao acampamento, mas continuavam a ouvir as passadas imensas pelas ravinas, escarpas e grotões; neste momento começaram a sentir um grande medo e de acordo com que as passadas iam se aproximando, o medo se transformou em pavor e começaram a correr.

No entanto, no meio da correria no mato, a moça tropeçou em uma pedra e caiu, machucando um pouco seu joelho, seu namorado se voltou para ela e, dando-lhe a mão, puxou-a para cima, mas quando eles olharam para trás, viram sob a sombra da lua um gigante preto e feio, com mais ou menos uns 30 m de altura, vindo em sua direção. Completamente espantados e não querendo acreditar que aquilo fosse real, ambos ficaram mudos e paralisados a observar o gigante da serra se aproximara deles mais e mais e, quando ficou a alguns poucos metro de distância, o gigante olhou-os fixamente nos olhos e, antes que eles pudessem fugir, passou a mão direita em seus corpos frágeis e os colocou em baixo do braço e, enquanto ia andando com suas passadas enormes sobre a mata densa do parque, o gigante os comeu um a um, pedaço a pedaço.

Goiazis e Guaiazis

anões

No século XVI um grupo de três caçadores portugueses andava em meio à mata densa da floresta amazônica, em terra firme; o grupo de três caçadores procurava por comida para se alimentar. No entanto, nesta madrugada ainda embelezada sombriamente pela aurora que iluminava a mata em poucos raios de sol que atravessavam a mata densa da floresta, os três caçadores viram de longe o brilho intenso do fogo em meio à floresta e, pensando ser uma tribo de índios, se aproximaram com cautela para ver melhor de qual tribo se tratava e se era perigosa.

Olhando por entre as árvores da mata densa da floresta, os caçadores puderam perceber a existência de um local plano e sem árvore que se assemelhava a uma aldeia, mas incrivelmente seus habitantes não eram índios, mas sim anões, e como se isso não bastasse do outro lado da aldeia habitava outro povo, mas não eram anões, mas sim monstros de estatura média. Neste momento eles constataram que na floresta amazônica existiam dois povos fabulosos até então desconhecidos, um formado por anões tão pequenos quanto bebês, autointitulados de Guaiazis, e outro formado por monstros, autointitulados de Goiazis.

Os Guazis possuíam uma estatura muito pequena, mas eram muito habilidosos e trabalhavam sempre em conjunto para alcançarem seus propósitos. Por outro lado, os Goiazis possuíam uma estatura média, porém, em comparação à estatura dos Guaiazis, eles pareciam monstros gigantes.

Olhando mais atentamente os caçadores perceberam que os dois povos eram como o reflexo especular e antagônico um do outro, ou seja, eles eram semelhantes em suas próprias diferenças e nem sempre viviam em paz. Neste dia, os caçadores testemunharam algo aterrorizante. Os Guaiazis estavam enfileirados de um lado e os Goiazis de outro se olhando mutuamente e de forma fixa uns para os outros com ar de ódio pairando sobre seus rostos. Os Goiazis dançavam uma dança que se resumia basicamente em andar dois passos para a direita e depois dois passos para a esquerda, enquanto faziam um som irritante com suas bocas, como se fosse o zunido de milhares de abelhas. Do outro lado, os Guaiazis estavam parados em uma fila horizontal olhando os Goiazis dançarem e cantarem.

Estando bem no meio dos dois povos, mas a certa distância segura que não pudessem ser vistos, os caçadores viram uma batalha sangrenta dar início entre os dois povos vizinhos. Os Goiazis eram pequenos, mas eram muito ágeis e habilidosos com saltos em longas distâncias e a grande altura. Por outro lado, os Guaiazis eram maiores e em relação aos anões, pareciam verdadeiros gigantes, o que lhes dava certa vantagem no que se refere à estatura, mas isto também era o seu fraco, pois sua estatura os tornava mais lentos e pouco habilidosos no andar e nas batalhas, sem contar que os Goiazis sempre trabalhavam e lutavam em grupo, enquanto que os Guaiazis sempre trabalhavam e lutavam sós, isto é, cada um por si.

Depois de meia hora de uma batalha sangrenta entre os anões e os gigantes, por incrível que pareça os anões conseguiram derrotar a maioria dos gigantes justamente porque lutavam em grupo e de forma sincronizada, enquanto que os gigantes, apesar de sua estatura, foram derrotados por causa de seu individualismo. Vendo que haviam perdido a batalha, os poucos gigantes que restaram fugiram e se esconderam em meio à floresta. Enquanto isso os anões comemoraram a vitória e deram ali na aldeia dos anões uma grande festa com muita dança, música e cânticos cantados em uma língua estranha jamais vista pelos caçadores que conheciam praticamente todas as tribos e povos da floresta amazônica, mas estes dois povos era a primeira vez que eles viam.

Muito curiosos os caçadores ficaram à espreita das árvores da floresta a observar toda a festança dos anões guerreiros e, assim que a noite começou, os anões começaram a se dispersar, saltando do chão até as árvores aos arredores da aldeia, pois eles habitavam em casas construídas sobre as árvores da região para se protegerem de um possível ataque surpresa dos gigantes que, como eram lentos e pouco habilidosos, não conseguiam subir no topo das árvores e, apesar de sua estatura mediana, mas gigantesca em relação aos anões, não chegava nem na metade da altura das árvores enormes da floresta amazônica.

Rapidamente toda a floresta ficou em silêncio e só se ouvia o som dos animais. No entanto, assim que os caçadores começaram a caminhar calmamente na floresta, um deles pisou em um galho fazendo um barulho pequeno para um ser humano, mas não para um anão da floresta, pois eles, além de visão noturna considerável, também possuíam uma audição inigualável que deixava as corujas com inveja. E sem perceber os caçadores chamaram a atenção dos anões que tão logo começaram a se posicionar sobre as árvores, e os caçadores somente viam as árvores se mexendo de um lado para o outro e ouviam algumas risadas como se fossem risadas de crianças. Pensaram que eram macacos saltando sobre os galhos das árvores, mas, de repente, viram surgir à sua frente iluminados pela luz da lua que atravessava as frestas das árvores da floresta, um pequeno grupo de anões e, assustados, se viraram para trás e, de repente, viram outro grupo de anões parados olhando para eles; assim ficaram de costas uns para os outros segurando suas armas e, quando pensaram em atirar, uma gama de anões caiu sobre suas cabeças e se amontoaram sobre os três caçadores deixando-os desacordados.

Quando voltaram a si, os caçadores estavam pendurados de cabeça para baixo, amarrados pelos pés no galho de uma árvore, e as centenas de anões estavam cantando e dançando em volta de uma grande fogueira no centro da aldeia. Um a um os anões foram soltando os caçadores e os empalando vivos com um galho de árvore enfiado em seus troncos e sendo colocados sobre o fogo para assarem e posteriormente serem devorados pelos anões. Enquanto um caçador era empalado vivo e colocado sobre o fogo, os outros ficavam somente observando aquela cena de terror e imaginando que eles seriam os próximos. Os três foram empalados, assados e devorados por centenas de anões da floresta amazônica.

 

A Moça sem Mãos

mãos

Há muitos e muitos anos atrás, havia um homem miserável que havia perdido tudo na vida, sobrando-lhe somente sua filha, a quem não conseguia mais alimentar por sem um único centavo no bolso.

Certa noite, no entanto, o homem saiu pela floresta a perambular em busca de restos de comida para alimentar sua filha e, de repente, viu surgir à sua frente em meio à nebulosa noite sombria, um demônio que se apresentou a ele como Mamom. E este lhe disse:

− Por que perambulas pela floresta a procurar restos de comida para sua filha? Se me deres sua alma, eu lhe farei rico e você nem sua filha nunca mais passarão fome ou dificuldade financeira.

Desesperado, o homem acabou aceitando a proposta do demônio. O demônio, no entanto, lhe disse:

− Aproveite sua riqueza e fartura que neste exato momento se faz em sua casa, pois daqui a dez anos eu voltarei para buscar sua alma e levá-la comigo para o inferno.

O homem maneou com a cabeça fazendo sinal de que concordava e, quando piscou os olhos o demônio desapareceu da sua frente, deixando somente uma fumaça negra e fétida com rastro de sua aparição.

Ao voltar para casa, o homem ficou espantado, pois havia comida em todos os armários, e quando abriu seu guarda roupa, viu cair de lá de dentro centenas de milhares de moedas de ouro. Irradiando felicidade o homem alimentou a sua filha e depois saiu para gastar um pouco de seu dinheiro. E durante dez anos o homem viveu feliz com abundância de comida e dinheiro, mas, findado os dez anos do contrato, o homem viu aparecer em seu quarto enquanto dormia o demônio Mamom, e este o acordou e assim lhe disse:

− É chegada a hora! Vim buscar sua alma e leva-la comigo para o inferno.

Todavia, ao perceber que estava prestes a morrer e ter sua alma levada para o inferno, o homem se arrependeu de ter feito o pacto com o demônio e lhe implorou pela sua vida. O demônio então lhe fez outra proposta, dizendo:

− Bem, eu até posso lhe deixar viver mais alguns anos, mas em troca eu quero que você corte as mãos de sua filha.

Sem saber o que fazer, mas não querendo morrer no auge de sua riqueza e fartura e com medo de deixar sua filha órfã, o homem a contra gosto aceitou a proposta de Mamom.

O homem então foi com uma faca afiada na mão até o quarto de sua filha que estava a dormir e, agachando-se à beira de sua cama, beijou-lhe a testa chorando de agonia e, subindo na cama e apoiando o peso de seu corpo sobre o dela e segurando forte sua mão esquerda a cortou com a faca enquanto a menina urrava de tanta dor e implorava a seu pai que não lhe cortasse a mãos, mas seu pai, depois de lhe cortar a mão esquerda da filha, jogou-a ao chão e, segurando sua mão direita a cortou e jogou-a no chão enquanto sua filha chorava e gritava de tanta dor.

Cumprido o pacto com o demônio, o homem levou sua filha até uma curandeira na floresta e depois lhe explicou tudo quanto havia acontecido. Sua filha então entendeu as razões do pai ter-lhe cortado às mãos e ambos continuaram a viver na riqueza e na fartura durante anos, até que novamente Mamom apareceu ao homem e disse:

− Chegou a sua hora, vim buscar a sua alma.

E o homem desesperado implorou por sua vida, pedindo ao demônio que desfizesse o pacto com ele, pois ele estava arrependido. O demônio então, já furioso, disse-lhe:

− Tudo bem, eu desfaço o pacto com você, mas em troca eu quero que você me dê um filho seu com sua filha.

O homem ficou aterrorizado com o pedido do demônio e disse:

− Mas ela é minha filha, como poderei me relacionar sexualmente com ela? Isso é incesto, um pecado muito grave!

O demônio então deu de ombros e disse:

− Tudo bem, se você não quer fazer isso então se prepare para morrer, eu vou levar sua alma para o inferno.

Desesperado o homem disse:

− Não! Não! Por favor, não faça isso. Tudo bem, eu faço o que me pediu.

Neste momento o demônio evaporou no ar deixando somente seu cheiro de enxofre no quarto. O homem então passou a mão na cabeça e pensou atordoado:

− Como é que eu vou fazer isso? Que Deus me perdoe pelo o que vou fazer.

E indo nas pontas dos pés até o quarto da filha que dormia tranquilamente, ele colocou em seu rosto um pano molhado com éter e, assim que ela desmaiou, ele levantou seu vestido, tirou sua calcinha, arriou suas calças e a estuprou durante meia hora e, por fim, ejaculou dentro de sua vagina. Antes de ela acordar, ele a vestiu novamente e voltou para o seu quarto como se nada tivesse acontecido.

Nove meses depois a sua filha teve o seu filho ali mesmo em sua casa nas mãos da curandeira da floresta que há anos atrás havia curado suas mãos decepadas por seu pai. Todavia, desta vez o pai não revelou à filha o que havia acontecido e ela, tendo engravidado pensando ainda ser virgem, imaginou que daria à luz a um anjo de Deus.

Assim que a criança nasceu, na mesma noite o demônio novamente lhe apareceu e disse:

− Vim buscar o que é meu. Dê-me a alma de seu filho recém-nascido. Mate-o!

O homem muito hesitante, mas a esta altura já com o coração escurecido pelas trevas, foi até o quarto da filha, tirou o bebê do berço, saiu do quarto, trancou a porta, foi até a copa da casa, colocou a criança sobre a mesa, pegou a mesma faca que havia decepado as mãos de sua filha e, levantando as mãos para o alto com a faca nas mãos, fechou os olhos e fincou fortemente a faca no meio do peito de seu próprio filho nascido do ventre de sua própria filha. Em seguida o demônio pegou a alma da criança e a levou com ele para o inferno enquanto homem estarrecido chorava copiosamente de culpa e remorso por ter assassinado seu filho-neto.

Chapeuzinho Vermelho

Chapeuzinho Vermelho

Há muitos e muitos anos atrás, uma adorável menina muito amada por sua vó que no último aniversário da menina deu-lhe uma capa vermelha-sangue feita de veludo e com um capuz envolto por dentro com lã de carneiro. Esta era a roupa mais amada da menina, porque havia sido feita e presenteada por sua amada vozinha. De tanto usar esta capa vermelha com capuz, a menina ficou conhecida na região toda com chapeuzinho vermelho.

Certo dia, no entanto, sua mãe fez um bolo bem gostoso e lhe entregou, ordenando-lhe que ela o levasse à sua avó para agradecer pela capa vermelha. Chapeuzinho Vermelho então saiu a cantarolar de felicidade em meio à floresta rumo à casa de sua avó. O caminho era um pouco longo e chapeuzinho vermelho, cansada, sentou-se ao pé de uma árvore e dormiu; quando acordou já estava escurecendo, ela então se levantou e partiu em direção a casa da vovó em meio à noite nebulosa, fria e assombrosamente assustadora da floresta tampada de neblina.

Chapeuzinho Vermelho estava muito assustada com a escuridão da noite e com o ambiente sinistro da floresta, e com medo nos olhos, frio na espinha e o coração disparado que quase saia pela boca, caminhou na ponta dos pés na escuridão sombria da floresta regida por sons de animais por todos os lados e, no meio do caminho, viu surgir no ar nebuloso da floresta um uivo de lobo e, assustada, ela parou e, prendendo a respiração, olhou de um lado a outro da floresta, mas nada conseguia ver por causa da escuridão da noite. Foi quando de repente surgiu por de trás de uma árvore a figura sinistra e sombria de um lobo que, querendo se mostrar gentil para esconder sua perversidade, cumprimentou a menina, dizendo:

− Boa noite jovem menina! O que fazes sozinha em meio à escuridão da floresta?

Chapeuzinho Vermelho então respondeu:

− Eu estou a caminho da casa de minha avozinha, vou levar um bolo para ela.

− E onde mora a sua avó?

− Ela mora peto do rio na beira da floresta.

− E qual o seu nome?

− Meu nome é Chapeuzinho Vermelho.

O lobo então se despediu da Chapeuzinho Vermelho e sumiu novamente na escuridão da floresta. A menina então continuou sua caminhada até a casa da vovó. Mas como o lobo era muito mais rápido do que Chapeuzinho vermelho, ele correu até a casa da vovó bem antes da menina chegar e, batendo à sua porta a ouviu responder lá de dentro:

− Quem bate à minha porta a esta hora da noite?

O lobo então disfarçando sua voz rouca, disse:

− Sou eu vovó, a Chapeuzinho Vermelho; vim trazer-lhe um bolo feito por minha mãe para lhe agradecer pela capa que me deste de aniversário.

A vovó então, como amava muito sua netinha:

− Pode entrar minha netinha, a porta está aberta, eu não vou até aí para lhe receber porque estou muito velha e já estou deitada na cama.

A vovó então ouviu a porta ranger e em seguida bater e, como o som de patas grandes, ouviu pegadas soando no ar da casa iluminada somente pela fogueira do fogão a lenha. Ela estranhou aqueles passos, pois sabia que os passos da Chapeuzinho Vermelho eram mais delicados e, alerta, perguntou:

− Chapeuzinho Vermelho, é você mesma que está aí?

E o lobo nada respondeu e o silêncio sombrio da casa interrompido somente pelas pegadas no assoalho fez a vovó gelar de medo. No escuro de seu quarto iluminado somente por uma pequena fresta de luz que vinha da cozinha, sentiu uma presença estranha em seu quarto que, calmamente caminhava até sua cama. Assustada a vovó já percebendo que aquela pessoa não era a Chapeuzinho Vermelho, começou a gritar, pedindo socorro, mas antes mesmo que ela pudesse completar a frase, o lobo voou em cima dela e arrancou seu coração e o devorou ainda quente; em seguida o lobo fatiou o corpo da velha em pedacinhos pequenos, engarrafou seu sangue e depois fez um belo cozido de carne da vovó no fogão a lenha.

Minutos depois o lobo ouviu a Chapeuzinho Vermelho bater à porta e, fingindo ser a vovó; ele disse:

− Olá minha netinha querida, pode entrar; a porta está aberta e eu não vou até aí porque estou muito velha e já deitada em minha cama. Chapeuzinho Vermelho então entrou e fechou a porta. Em seguida andou calmamente na casa iluminada somente pela luz do fogo que emanava da cozinha e, chegando à porta do quarto da vovó, disse-lhe:

− Vovó. Eu lhe trouxe bolo para agradecer pelo presente que me dera de aniversário. Eu o estou usando.

− Ó minha querida, não precisava se incomodar. Agora está muito tarde e sua vó está cansada. Vá até a cozinha. Você deve está com fome. Eu fiz um ensopado de carne que está delicioso. Coma-o e vá dormir. Amanhã de manhã agente se fala e você me dá o presente que me trouxe.

− Tudo bem vovó. Assim o farei.

Chapeuzinho Vermelho então se virou calmamente, foi até a cozinha, colocou o bolo sobre a mesa, pegou um prato e uma colher e foi até o fogão a lenha, destampou a panela e encheu seu prato com o ensopado de carne da vovó e, sentando-se à mesa, comeu o ensopado sem saber que estava a devorar a sua própria avó. Com sede, viu sobre a mesa uma garrafa com líquido vermelho e, pensando ser suco de amora, bebeu o sangue de sua avó e em seguida, satisfeita, foi para a sua cama dormir.

No outro dia, quando o sol raiou, Chapeuzinho Vermelho acordou, se levantou depois de espreguiçar, calçou sua pantufa e foi até o quarto dar bom dia para sua avó, mas lá chegando se deparou com sua cama completamente manchada de sangue com pedaços de tripa para todo o lado no quarto. Desesperada com aquela cena sinistra e pavorosa, Chapeuzinho Vermelho correu até a cozinha na esperança de que ali veria sua avó viva, mas lá chegando, viu somente um bilhete sobre a mesa, ela então o pegou e leu. E no bilhete estava escrito o seguinte.

− Chapeuzinho Vermelho. Você gostou do ensopado de carne que eu fiz? Pois é, ele foi feito com a carne de sua avó, e a garrafa vermelha em cima da mesa da cozinha não era suco de amora, mas sim o sangue de sua avó. Assinado. Lobo Mau.

Naquele momento Chapeuzinho entrou em pânico e começou a enfiar o dedo em sua garganta para vomitar; no entanto, não conseguindo colocar para fora a sua avó, ele não suportou saber que havia devorado sua própria vovó por ela tão amada e, estupefata, saiu da casa e adentrou calmamente no rio e se matou afogada.

O Enigma

enigma 1

Há muitos e muitos anos atrás, havia um príncipe que, sentindo um imenso desejo de sair pelo mundo, renunciou a toda a riqueza, conforto e luxo de seu palácio e, levando consigo somente o seu criado fiel que era muito mais do que criado, mas também seu melhor amigo. Certa noite, no meio da floresta sob um frio cortante e uma neblina nauseante regida pelos uivos dos lobos, o príncipe, não tendo onde passar a noite viu ao longe no meio da floresta uma luz fosca a brilhar. Ele então partiu com seu criado até a luz fosca e, lá chegando, se deparou com uma casa muito velha e pobre com um ar sombrio e sinistro. Não tendo medo e precisando de um lugar para dormir, ele bateu à porta daquela casa e tão logo foi recebido por uma bela jovem que lhe disse:

− No que posso lhe ajudar senhor?

− Minha bela senhorita, eu e meu criado estamos sem lugar para passar a noite. Será que a senhorita pode nos acolher só por hoje em sua casa?

− Claro que pode, eu não vou deixar você passarem a noite na floresta; é muito perigoso.

A moça disse tais coisas com um tom de grande tristeza em sua voz e com o olhar quase lacrimejante. Naquela casa bem no alto desta colina mora uma Bruxa muito perversa. Eu não aconselho vocês a passarem por ali, pois ela pratica magia negra e odeia forasteiros perambulando por esta floresta. Eles então entraram e se aconchegaram, dormindo tranquilamente até o raiar do sol, quando bem cedo partiram montados em seus cavalos. No entanto, inevitavelmente tiveram que passar em meio à floresta sombria e escura mesmo durante o dia, pois era tão hermética que somente alguns poucos raios de luz a atravessavam deixando-a com um ar assombrado e sinistro.

Em determinado momento, viram surgir por entre as árvores de repente uma velha senhora muito feia e enrugada toda vestida de preto com um capuz na cabeça. Os cavalos imediatamente empacaram e começaram a relinchar; o príncipe e seu criado se assustaram com aquela visão e sentiram um arrepio na espinha, e ali parado sobre o cavalo, vira aquela velha horrorosa se aproximar e lhe oferecer um pouco de água que ela trazia consigo numa pequena garrafa. Como eles estavam sem uma gota de água em suas garrafas, aceitaram a água da senhora misteriosa e sóbria, mas aparentando ser muito gentil, mas não beberam da água naquele instante, somente a colocaram dentro de suas garrafas para beberem depois e, quando o príncipe estava colocando a água na garrafa, sem querer deixou derramar um pouco na relva rasteira da floresta que, imediatamente, secou e morreu, deixando uma marca no chão. Naquele momento dezenas de corvos começaram a sobrevoar suas cabeças e, espantando-os, montaram em seus cavalos e partiram sem sequer se despedirem ou agradecer a velha senhora que lhe dera aquela água sinistra que matara até mesmo a grama da floresta.

Os dois percorreram a floresta o dia todo, mas pareciam estar dando voltas em torno si; completamente perdidos no meio daquela floresta sombria, mesmo com muita sede, não beberam daquela água e jogaram uma gota ao chão para ver o que acontecia; e de repente começou a pegar fogo no lugar onde a jogaram. No meio da noite, aquele fogo foi visto de longe e atraiu a Bruxa da colina que se aproximou deles na escuridão sem que eles a percebesse, mas tão somente ouvissem passos estranhos na mata.

No meio da noite, enquanto dormiam ao relento e no frio, a Bruxa se aproximou lentamente deles e, olhando-os dormir, viu-os acordarem assustados com sua presença sombria e, assim que se recompuseram do susto, viu a Bruxa oferecer-lhes um corvo morto para comerem. Com o coração disparado, eles manearam com a cabeça dizendo que não e quando piscaram os olhos viram a Bruxa da colina desaparecer no ar, deixando somente o corvo morto ao chão e o rastro de uma fumaça fétida.

Eles, completamente apavorado, selaram seus cavalos e partiram no meio da noite cavalgando sem rumo pela floresta. Quando amanheceu o dia, viram um vilarejo ao longe e cavalgaram até ele. Na entrada do vilarejo se depararam com uma bela donzela a vigiar e tomar conta da entrada do vilarejo e, se colocando á frente dos cavalos e os impedindo de passar, disse-lhes;

− Forasteiro. Nesta cidade só podeis entrar se for capaz de me proporem um enigma que eu não consiga decifrar. Mas se eu o decifra, vós sereis esquartejados vivos pelos guardas da cidade.

O príncipe então, muito sábio, propôs-lhe um enigma:

− O que é o que é? É água, mas ao cair ao chão produz fogo.

A donzela misteriosa pensou durante horas a fio, mas não conseguiu decifrar o enigma, mesmo consultando seu livro de enigmas. Ela então se rendeu e disse:

− Eu não sei. Não consigo decifrar. Por favor, diga-me qual é a resposta.

Ora! Ora! Bela donzela, se tu não conseguiste decifra-lo, não sou eu que vou revela-lo.

Ela o deixou passar pela cidade, mas irada com sua ousadia e indignada por não saber a resposta do enigma, ordenou aos guardas que os pegassem os matassem esquartejados. Quando o príncipe e seu criado passavam pela cidade, foram surpreendidos pelos guardas que os derrubaram do cavalo e os jogaram ao chão, fazendo a sua volta uma roda sob a mira de espadas afiadas e, assim que iriam esquarteja-los, a donzela macabra gritou:

− Ainda não!

E adentrando no meio da roda de guardas, agachou-se ao chão, colocou a mão no queixo do príncipe e disse:

− Diga-me a resposta do enigma ou eu deixo meus guardas esquartejarem vocês dois vivos.

O príncipe então concordou e disse a resposta do enigma:

− A resposta está dentro dessa garrafa. Pegue-a e veja por si mesma.

A mulher, muito curiosa, pegou a garrafa da mão do príncipe e olhou fixamente lá dentro e, enquanto olhava, o príncipe tocou a garrafa por baixo e assim parte da água venenosa da Bruxa da colina voou até os olhos da donzela sombria e seus olhos imediatamente começaram a pegar fogo. Ela saiu em disparada de desespero e gritando dizia aos guardas para apagarem o fogo de seus olhos, estes correram apavorados atrás dela para apagarem o fogo e, enquanto isso, o príncipe e seu criado montaram em seus cavalos e fugiram.

Cinderela

Cinderela 1

Há muitos e muitos anos atrás havia um homem muito rico cuja mulher havia adoecido. Sentindo que estava no bico do corvo, a mulher chamou a sua única filha a beira da cama e sussurrou em seu ouvido:

− Minha menina, sê sempre amorosa, justa e caridosa, que Deus estará sempre ao seu lado e eu guiarei seus paços lá do céu.

E assim que acabou de sussurrar tais palavras no ouvido de sua filha, fechou os olhos, expirou e morreu. Sua filha a abraçou morta e chorou durante horas a fio e, no enterro, regou o túmulo de sua mãe com suas lágrimas de dor e saudades. E a partir de então a menina ia todo santo dia ao cemitério, depositava uma rosa branca no túmulo de sua mãe, rezava e regava o chão com suas lágrimas. O inverno passou rigoroso e, no verão seguinte, seu pai se casou com outra mulher que, vendo ser aquele homem rico e viúvo, logo deu um jeito de conquista-lo, pois, sendo extremamente interesseira e ambiciosa, não deixou sua presa escapar.

Esta mulher, no entanto, já tinha duas filhas de outro casamento, e elas eram bem parecidas com sua mãe tanto na aparência quanto no caráter. Todos foram morar na casa do homem rico que passava dias fora de casa em viagens de trabalho enquanto sua filha ficava aos cuidados de sua madrasta e suas novas irmãs. Estas odiavam a menina e a desprezava, a humilhavam e a maltratavam sob o consentimento de sua mãe que também odiava a menina, pois ela lhe fazia lembrar-se da defunta da ex-mulher de seu novo marido.

Durante anos a fio a menina sofreu muito nas mãos de sua madrasta e de suas duas irmãs. Estas a exploravam fazendo-a trabalhar para elas e no lugar delas. A menina fazia tudo dentro de casa enquanto a madrasta e as filhas ficavam de pernas para o ar. E como se não bastasse, toda vez que a menina não conseguia realizar sua carga inumana de trabalho escravo, ela cruelmente a castigava, deixava-a sem comida e água presa no porão da casa e de hora em hora ia até lá junto com suas duas filhas e surrava a menina sem dó nem piedade. Muitas vezes a trancafiava dentro de uma jaula dentro do porão e sempre queimava seu corpo com cigarro. Deixava-a semanas inteiras trancafiada no porão da casa deitada sobre suas próprias fezes e urinas. Certa vez, vendo que a sua madrasta e suas duas filhas estavam a descer a escada, implorou-lhes por um prato de comida e um copo de água, elas então obrigaram a comer suas próprias fezes e a bebere sua própria urina. E sempre que a casa ficava muito suja e bagunçada, a madrasta a libertava do porão e a obrigava a limpar toda a casa e, enquanto ela limpava a casa, suas irmãs de propósito a sujavam mais e mais bem na sua frente enquanto riam de forma macabra da sua cara.

Depois de uma noite intensa de trabalho, a menina acabou adormecendo no chão junto à borralha que saia do fogão a lenha na cozinha. E por esta razão a menina ganhou o apelido de gata borralheira, por dormir em meio ao borralho da lenha.

Certo dia sua madrasta perversa e suas duas irmãs cruéis saíram de casa para comprarem vestidos e, vendo a oportunidade, a menina foi até o jardim, apanhou um ramalhete de flores e foi visitar o túmulo de sua mãe e sobre ele depositou suas flores e as regou com suas lágrimas de dor e, enquanto chorava copiosamente contando para sua mãe os maus-tratos que sofria, viu de repente uma pomba branca pousara graciosamente sobre o túmulo de sua mãe e miraculosamente dizer-lhe:

− Não chores mais, minha filha, lembra-te que Deus olha por ti e ele te dará tudo o que a ele pedir.

A menina então enxugou suas lágrimas e retornou para casa com pressa antes que sua madrasta voltasse das compras. Naquele mesmo dia, assim que sua madrasta chegou a casa, ouviu da cozinha ela comentar feliz com suas filhas que o rei iria dar uma bela festa em seu palácio durante três dias, e que todas as jovens da cidade estavam convidadas, pois seu filho – o príncipe – iria escolher uma para ser sua esposa. As filhas da madrasta da gata borralheira então ordenou a esta que as penteasse, pois elas iriam ao baile para conquistar o príncipe e se tornar sua esposa; e uma irmã ficara a competir com a outra qual das duas iria conseguir conquistar o rei e se tornar sua esposa. A gata borralheira as obedeceu e as penteou, deixando-as muito bonitas, ao menos por fora. Mas quando reparou na s duas meninas vestidas tão luxuosamente e tão belas, correu para o banheiro e despencou a chorar e, enquanto se olhava no espelho, deprimida com sua aparência maltrapilha, ouviu a porta bater e sua madrasta e suas duas irmãs saírem em direção ao palácio do rei.

Agoniada com toda aquela situação deprimente, a gata borralheira saiu de casa correndo em passos largos e foi até o túmulo de sua mãe, lá chegando se ajoelhou e em seguida se deitou em posição fetal sobre o túmulo enquanto o regava com suas lágrimas de dor. Foi quando de repente a mesma pomba de anteriormente pousou novamente sobre o túmulo e disse-lhe:

− Não chores minha filha, esta noite você irá ao baile; levanta-te daí e feche os olhos.

A menina então se levantou lentamente e, de frente para a pomba sobre o túmulo de sua mãe, fechou os olhos e quando os abriu novamente, estava vestida com o vestido mais belo e luminoso que já vira em toda a sua vida e calçada com tamancos luxuosos, bordados a ouro e prata. Espantada com aquilo, levou a mão sobre sua cabeça e percebeu que seu cabelo estava limpo, cheiros e alinhadíssimo. Feliz da vida ela pulou de alegria fechando os olhos e, quando os abriu novamente a pomba havia desaparecido misteriosamente. Ela então começou a caminhar em direção a saída do cemitério e, quando chegou ao seu portão de ferro, viu do lado de fora uma bela carruagem com dois cavalos brancos e um cocheiro a sua espera que, descendo da carruagem, deu-lhe a mão e a ajudou a subir.

Ele então seguiu com a gata borralheira em direção ao palácio do rei e, assim que ela foi auxiliada pelo cocheiro para descer da carruagem, este a olhou nos olhos e disse:

− Minha bela senhorita, eu estarei aqui a lhe esperar, mas não se esqueça; o encanto da pomba branca só irá durar até meia-noite, depois disso você retornará à sua condição anterior, e eu irei desaparecer junto com esta carruagem.

A menina então acenou com os olhos como se demonstrasse ter compreendido o recado do cocheiro e caminhou em direção ao palácio subindo elegantemente sua escadaria. Quando ela adentrou ao salão, todos no baile voltaram seu seus olhares para aquela bela e misteriosa jovem, mas as mais surpresas de todo o baile foram as duas filhas da madrasta cruel, pois pensavam que seriam as duas mais belas do baile, mas quando viram aquela moça, sentiram ódio, ciúme e inveja em seus corações e, com os olhos vermelhos de raiva, viram o rei se levantar de seu trono e ir até aquela bela jovem com o olhar fascinado por sua extrema beleza e delicadeza no andar; tomando-a nos braços o príncipe a tirou para dançar e ambos dançaram durante todo o baile e o príncipe não tirou mais nenhuma moça para dançar de tão encantado que estava com aquela bela senhorita.

No entanto, de repente a gata borralheira ouviu o sino badalar doze vezes e, rapidamente deu um beijo na boca do príncipe e saiu correndo do palácio enquanto o príncipe corria para alcança-la. Na pressa, a bela jovem deixou seu tamanco cair durante a descida da escada e, enquanto ela entrava na carruagem e sumia no horizonte distante da cidade, o príncipe pegou ao chão o seu tamanco.

No mesmo instante o príncipe retornou ao salão e deu a festa por encerrada, dizendo que não precisariam voltar aos outros dois dias, pois o baile havia chegado ao fim. No outro dia bem cedinho, o príncipe ordenou aos seus mensageiros que pregassem por toda a cidade cartazes avisando que ele se casaria com a jovem cujo pé direito encaixasse no tamanco, pois assim ele saberia quem era a tão bela e misteriosa moça que havia dançado com ele no baile. Ele ordenou que seus servos levassem o tamanco com eles e o experimentassem em todas as jovens da cidade indistintamente, independente de sua condição social ou financeira.

Os servos do príncipe partiram rumo a sua missão de encontrar a dona do tamanco perdido na escadaria do palácio e, quando chegaram a casa onde a gata borralheira vivia, bateram à porta e, sendo recebidos pela madrasta cruel, foram convidados a entrar e a se sentara no sofá. Em seguida a madrasta chamou primeiro, uma de suas filhas para experimentara o tamanco nas mãos do servo do príncipe e, calçando-o de forma forçada e disfarçando a dor que sentia, ela disse:

− Ora! Não é que coube perfeitamente!

Mas o servo do príncipe não sendo bobo nada, percebeu que ela estava forçando demais o calçado e disfarçando sua dor e, tão logo lhe mandou retirar o tamanco, dizendo que ela não havia passado no teste. Triste e chorando ela saiu correndo e se trancou em seu quarto. Escondida no corredor estava sua irmã a ver todo o teste e, percebendo que ela não havia passado, concluiu que ela também não passaria, pois calçava o mesmo número da irmã. Desesperada, ela então correu até a cozinha, pegou uma faca bem afiada e se trancou no banheiro. Lá, ela tirou seu tamanco velho e depois sua meia de cor preta e colocou os pés sobre o vaso sanitário e cortou seus próprios dedos para caberem para seus pés caberem no tamanco; o sangue começou a jorrar dentro do vaso sanitário e logo ela correu para o chuveiro e lavou seus pés agora sem nenhum dedo sequer e em seguida calçou ali mesmo as suas meias para disfarçar o corte que havia provocado em seus pés arrancando todos os seus dedos para seus pés caberem perfeitamente no tamanco. Ouvindo os gritos de sua mãe a chamar por seu nome, ela rapidamente calçou seu tamanco e foi em passos largos e dolorosos até a sala. Lá chegando se sentou e o servo do príncipe colocou em seu pé direito o tamanco; este entrou tranquilamente e ela ficou radiante, mas o servo então apalpou a fronte do tamanco e viu que estava sobrando espaço – ela havia cortado os próprios dedos profundo demais – e ele então disse que ela não havia passado no teste. Chorando e com raiva, e a gora sem dedos nos pés, a jovem partiu em direção ao banheiro e lá ficou durante horas a fio a choras copiosamente.

Os servos do príncipe então perguntaram à madrasta se havia naquela casa mais alguma jovem, e ela arrogantemente disse que não. Naquele exato instante os servos ouviram uma panela cair na cozinha da casa e, desconfiados, foram até lá e, vendo a gata borralheira a trabalhar, chamou-a para experimentar o tamanco sobre muitos protestos da madrasta que dizia que ela era somente a empregada e que nem mesmo havia ido ao baile. Mas o servo do príncipe lembrando de sua ordem de que não deveria levar em conta a condição social e financeira de nenhuma moça, mas tão somente experimentar o tamanco em todas elas, ali mesmo na cozinha se ajoelhou diante dela e, calçando-a, viu que o tamanco cabia perfeitamente eu seu pé e lhe disse:

− Meus parabéns minha jovem! Você passou no teste. Largue tudo o que está fazendo e venha comigo. Você agora será a minha princesa e o príncipe espera por ti no palácio.

As duas irmãs ouvindo de longe que a gata borralheira seria a nova princesa do reino, se desesperaram de tanta inveja no coração e, cada uma a seu modo, um no quarto e a outra no banheiro, se mataram, uma enforcada e a outra degolada. E a madrasta cruel passou a vida toda a se culpar pelo suicídio das filhas e sofreu amargamente durante cem anos a fio.