O Enigma

enigma 1

Há muitos e muitos anos atrás, havia um príncipe que, sentindo um imenso desejo de sair pelo mundo, renunciou a toda a riqueza, conforto e luxo de seu palácio e, levando consigo somente o seu criado fiel que era muito mais do que criado, mas também seu melhor amigo. Certa noite, no meio da floresta sob um frio cortante e uma neblina nauseante regida pelos uivos dos lobos, o príncipe, não tendo onde passar a noite viu ao longe no meio da floresta uma luz fosca a brilhar. Ele então partiu com seu criado até a luz fosca e, lá chegando, se deparou com uma casa muito velha e pobre com um ar sombrio e sinistro. Não tendo medo e precisando de um lugar para dormir, ele bateu à porta daquela casa e tão logo foi recebido por uma bela jovem que lhe disse:

− No que posso lhe ajudar senhor?

− Minha bela senhorita, eu e meu criado estamos sem lugar para passar a noite. Será que a senhorita pode nos acolher só por hoje em sua casa?

− Claro que pode, eu não vou deixar você passarem a noite na floresta; é muito perigoso.

A moça disse tais coisas com um tom de grande tristeza em sua voz e com o olhar quase lacrimejante. Naquela casa bem no alto desta colina mora uma Bruxa muito perversa. Eu não aconselho vocês a passarem por ali, pois ela pratica magia negra e odeia forasteiros perambulando por esta floresta. Eles então entraram e se aconchegaram, dormindo tranquilamente até o raiar do sol, quando bem cedo partiram montados em seus cavalos. No entanto, inevitavelmente tiveram que passar em meio à floresta sombria e escura mesmo durante o dia, pois era tão hermética que somente alguns poucos raios de luz a atravessavam deixando-a com um ar assombrado e sinistro.

Em determinado momento, viram surgir por entre as árvores de repente uma velha senhora muito feia e enrugada toda vestida de preto com um capuz na cabeça. Os cavalos imediatamente empacaram e começaram a relinchar; o príncipe e seu criado se assustaram com aquela visão e sentiram um arrepio na espinha, e ali parado sobre o cavalo, vira aquela velha horrorosa se aproximar e lhe oferecer um pouco de água que ela trazia consigo numa pequena garrafa. Como eles estavam sem uma gota de água em suas garrafas, aceitaram a água da senhora misteriosa e sóbria, mas aparentando ser muito gentil, mas não beberam da água naquele instante, somente a colocaram dentro de suas garrafas para beberem depois e, quando o príncipe estava colocando a água na garrafa, sem querer deixou derramar um pouco na relva rasteira da floresta que, imediatamente, secou e morreu, deixando uma marca no chão. Naquele momento dezenas de corvos começaram a sobrevoar suas cabeças e, espantando-os, montaram em seus cavalos e partiram sem sequer se despedirem ou agradecer a velha senhora que lhe dera aquela água sinistra que matara até mesmo a grama da floresta.

Os dois percorreram a floresta o dia todo, mas pareciam estar dando voltas em torno si; completamente perdidos no meio daquela floresta sombria, mesmo com muita sede, não beberam daquela água e jogaram uma gota ao chão para ver o que acontecia; e de repente começou a pegar fogo no lugar onde a jogaram. No meio da noite, aquele fogo foi visto de longe e atraiu a Bruxa da colina que se aproximou deles na escuridão sem que eles a percebesse, mas tão somente ouvissem passos estranhos na mata.

No meio da noite, enquanto dormiam ao relento e no frio, a Bruxa se aproximou lentamente deles e, olhando-os dormir, viu-os acordarem assustados com sua presença sombria e, assim que se recompuseram do susto, viu a Bruxa oferecer-lhes um corvo morto para comerem. Com o coração disparado, eles manearam com a cabeça dizendo que não e quando piscaram os olhos viram a Bruxa da colina desaparecer no ar, deixando somente o corvo morto ao chão e o rastro de uma fumaça fétida.

Eles, completamente apavorado, selaram seus cavalos e partiram no meio da noite cavalgando sem rumo pela floresta. Quando amanheceu o dia, viram um vilarejo ao longe e cavalgaram até ele. Na entrada do vilarejo se depararam com uma bela donzela a vigiar e tomar conta da entrada do vilarejo e, se colocando á frente dos cavalos e os impedindo de passar, disse-lhes;

− Forasteiro. Nesta cidade só podeis entrar se for capaz de me proporem um enigma que eu não consiga decifrar. Mas se eu o decifra, vós sereis esquartejados vivos pelos guardas da cidade.

O príncipe então, muito sábio, propôs-lhe um enigma:

− O que é o que é? É água, mas ao cair ao chão produz fogo.

A donzela misteriosa pensou durante horas a fio, mas não conseguiu decifrar o enigma, mesmo consultando seu livro de enigmas. Ela então se rendeu e disse:

− Eu não sei. Não consigo decifrar. Por favor, diga-me qual é a resposta.

Ora! Ora! Bela donzela, se tu não conseguiste decifra-lo, não sou eu que vou revela-lo.

Ela o deixou passar pela cidade, mas irada com sua ousadia e indignada por não saber a resposta do enigma, ordenou aos guardas que os pegassem os matassem esquartejados. Quando o príncipe e seu criado passavam pela cidade, foram surpreendidos pelos guardas que os derrubaram do cavalo e os jogaram ao chão, fazendo a sua volta uma roda sob a mira de espadas afiadas e, assim que iriam esquarteja-los, a donzela macabra gritou:

− Ainda não!

E adentrando no meio da roda de guardas, agachou-se ao chão, colocou a mão no queixo do príncipe e disse:

− Diga-me a resposta do enigma ou eu deixo meus guardas esquartejarem vocês dois vivos.

O príncipe então concordou e disse a resposta do enigma:

− A resposta está dentro dessa garrafa. Pegue-a e veja por si mesma.

A mulher, muito curiosa, pegou a garrafa da mão do príncipe e olhou fixamente lá dentro e, enquanto olhava, o príncipe tocou a garrafa por baixo e assim parte da água venenosa da Bruxa da colina voou até os olhos da donzela sombria e seus olhos imediatamente começaram a pegar fogo. Ela saiu em disparada de desespero e gritando dizia aos guardas para apagarem o fogo de seus olhos, estes correram apavorados atrás dela para apagarem o fogo e, enquanto isso, o príncipe e seu criado montaram em seus cavalos e fugiram.

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