Havia um objeto oculto, secreto, escondido na mansão da Srª Amélia, onde eu trabalhava de governanta há anos; o que me concedeu bastante conhecimento antropológico e psicológico da família Morais de Almeida. O marido da Srª Amélia já havia morrido há muitos anos, e eu entrei na mansão para trabalhar como governanta logo depois. E desde a morte do marido a Srª Amélia vive em profunda melancolia e depressão, enclausurada em suma mansão sombria.
No entanto, desde que entrei naquela mansão, notei que havia algo estranho ali, algo com um significado ou causa oculta, escondida; algo que durante anos eu não soube explicar, mas uma coisa sempre chamou muito a minha atenção: a ausência completa de fotografias do marido falecido da Srª Amélia, e isso despertara minha curiosidade em relação à mansão e a Srª Amélia.
De qualquer forma, com o passar dos anos trabalhando como governanta na mansão que o marido havia deixado para a Srª Amélia, uma mulher distinta e com uma beleza exótica, porém muito melancólica e sempre triste, passava a maioria do dia dormindo e ficava perambulando pela casa durante a noite.
Certa madrugada, eu, curiosa para saber qual era o segredo que a Srª Amélia escondia naquela mansão, ao ouvi-la se levantar de sua cama e descer as escadas que levavam até a sala, eu me levantei da minha cama em meu quarto nos fundos da mansão e corri para ver o que ela iria fazer. Foi quando cheguei silenciosamente na escuridão da sala da casa e a vi entrar na biblioteca da mansão e fechar a porta. No entanto, minha curiosidade era maior, e eu acabei me aproximando da porta e abrindo-a lentamente para olhar pela fresta, e quando olhei, vi a Srª Amélia puxar da prateleira de livros um livro em específico e, assim que ela puxou o livro, uma porta entre as prateleiras de livros da biblioteca se abriu e ela então nela entrou e a porta novamente se fechou.
Naquele momento, com medo, eu retornei para o meu quarto e passei a noite toda acordada pensando no que é que a Srª Amélia escondia naquela passagem secreta. O que é que havia lá?
E quanto mais o tempo passava mais curiosa eu ficava e, num dia, numa das vezes em que raramente a Srª Amélia saia de casa para ir até o cemitério depositar flores no túmulo de seu marido, eu não me aguentei de curiosidade e aproveitei a saída dela para descobrir qual era o seu segredo.
Então, enquanto ela estava no cemitério a rezar para o marido falecido, eu corri e entrei na biblioteca e, por alguns segundos, procurei o livro que eu havia visto ela puxar e a porta se abrir e, depois de alguns segundos tentando aleatoriamente na direção em que eu havia visto, consegui encontrar o livro e, quando eu o puxei uma porta secreta se abriu e eu imediatamente entre, mas quando ela se fechou atrás de mim eu quase morri de susto; no entanto, mesmo com medo, eu segui em frente, pois minha curiosidade era maior do que o risco de perder o meu emprego, e do outro lado da porta havia uma gruta de pedra iluminada com velas que me levaram até um altar e, quando eu me aproximei do altar, vi em seu centro um vidro lacrado com uma cabeça humana dentro conservada com formol.
Desesperada por ver aquela cena horrível, eu saí correndo e voltei pelo mesmo caminho, mas quando cheguei à porta secreta da biblioteca por onde eu havia entrado, não encontrei uma forma de abrir a porta do lado de dentro, e por alguns segundos fiquei perdida, mas quando eu consegui me acalmar, comecei a olhar por todos os lados e vi um interruptor na parede ao lado, apertei-o e, graças a Deus a porta secreta se abriu e em seguida se fechou enquanto eu corria agoniada para o meu quarto. E ali me deitei em minha cama e fiquei a pensar de quem era a cabeça conservada em um vidro de formol naquela gruta sombria iluminada por velas, dando um ar macabro e demoníaco ao local. Com medo até às espinhas, quando a Srª Amélia chegou em casa do cemitério, eu me acheguei até ela com a cara abatida e disse não estar me sentindo muito bem, e pedi a ela dispensa aquele dia, para que ela pudesse ficar em seu quarto e descansar. E a Srª Amélia de imediato a liberou a passar o dia de folga.
Durante mais um ano inteiro eu continuei na casa, com medo e tensão, mas continuei movida pela minha curiosidade; a espera do aniversário do marido de morte do marido da Srª Amélia a fim de que eu tivesse outra chance de investigar melhor o caso.
Depois de um ano, chegou novamente o dia de aniversário de morte do marido da Srª Amélia e, enquanto ela estava no cemitério depositando flores no túmulo do marido, eu corri até sua biblioteca e comecei a procurar por qualquer coisa ou documento que me revelasse de quem era a cabeça daquele homem conservada dentro de um vidro de formol, e, no meio da minha procura aleatória, encontrei na gaveta da escrivaninha da biblioteca uma foto de casamento, com a Srª Amélia e seu marido e, quando olhei para o rosto do marido, reconheci na hora que a cabeça conservada em formol na gruta sombria era dele. Ela havia decepado a cabeça do próprio marido e a conservado em um vidro com formol em um lugar secreto escondido atrás da biblioteca da casa, uma gruta subterrânea iluminada por velas dando ao lugar um ar macabro.
Em seguida arrumei a bagunça que eu havia feito na biblioteca, deixando tudo ou quase tudo como estava antes e fui realizar meus afazeres de governanta. E desde esse dia eu esperava o ano todo para chegar o dia do aniversário de morte da Srº Amélia para eu procurar por sinais e pistas que indicassem porque aquela mulher havia cortado a cabeça do próprio marido e a conservado durante tantos anos em um lugar tão sombrio quanto aquela gruta subterrânea. E a cada ano eu descobria uma coisa nova que ia, aos poucos, revelando o mistério da cabeça do marido da Srª Amélia. Quem era de verdade a misteriosa Srª Amélia e porque ela decepara a cabeça do próprio marido e a guardara durante todos esses anos?
Ao longo de mais sete anos trabalhando na mansão, a cada ano eu descobri uma coisa diferente que me levou à resolução do caso.
1º Toda a fortuna do marido da Srª foi deixado para ela em testamento, incluindo a mansão onde ela morava.
2º O marido da Srª Amélia fora velado de caixão fechado, e o laudo de sua autópsia dizia que a causa da morte era meningite aguda.
3º O marido da Srª Amélia a traia com t, e ela tinha fotos desta traição porque contratou um detetive particular para seguir o marido depois que começou a desconfiar de suas traições.
4º A Srª Amélia desenvolveu um ódio mortal pelo marido depois de descobrir as traições de seu marido com prostitutas, e a prova disso estava nos escritos de seu diário.
5º A Srª Amélia, depois de descobrir as traições do marido, guardou seu ódio dentro de si e continuou sua vida com seu marido normalmente como se nada tivesse acontecido, e as provas disso também estão em seu diário.
6º A Srª Amélia traiu seu marido com garotos de programa para se vingar dele e suas traições, e isso está descrito no diário.
7º A Srª Amélia não conseguiu suprir seu ódio e seu desejo de vingança transando com outros homens e registrou em seu diário o seu desejo incontrolável de matar o seu marido e guardar para si um troféu.
Certa noite então, enquanto o marido dormia com sua mulher que somente fingia dormir, a Srª Amélia se levantou lentamente da cama para não acordar o marido e, pisando delicadamente ao chão, saiu do quarto e foi até a casa de ferramentas do lado de fora da mansão e lá pegou uma foice, a maior e mais afiada e depois retornou para casa, entrou sorrateiramente no quarto onde o marido dormia e, achegando-se ao lado da cama, desferiu um único golpe de foice que decepou sua cabeça na hora enquanto dormia.
A Srª Amélia em seguida pegou a cabeça do marido e a colocou em um vidro com formol e a guardou por alguns instantes na penteadeira do quarto. Depois retirou todos os lençóis manchados de sangue e, do lado de fora da casa, em um tonel, jogou-os fora e tocou fogo neles. Posteriormente ela retornou à mansão e ligou para um amigo seu da faculdade que atualmente trabalhava no IML, e o subornou com um milhão para fazer para ela um atestado de óbito com a causa da morte sendo meningite, e que ele recomendasse no relatório da autópsia que, devido ao estado avançado da doença, o corpo não deveria ser exposto em um velório com caixão aberto por risco de contágio da doença. O seu amigo aceitou e lhe entregou pessoalmente o atestado, e pegou sua recompensa de um milhão de reais em dinheiro vivo guardado em uma maleta, e depois foi rapidamente embora devido à demonstração de urgência de Srª de terminar aquela negociação.
Posteriormente a Srª Amélia ligou para a funerária que seria responsável pela realização do funeral de seu marido, mas ela fez a exigência de ela própria realizar o procedimento, subornando-os com mais um milhão de dólares. Eles imediatamente aceitaram e foram para a mansão da Srª Amélia.
Ao ver pela janela o carro da funerária chegar, ela imediatamente cobriu o corpo decepado do marido na cama com um edredom e escondeu o vidro com sua cabeça dentro em um armário.
Assim que eles tocaram a campainha a Srª Amélia desceu as escadas da mansão e atendeu a porta, pedindo que eles levassem todo o material necessário lá para cima no quarto. E assim os agentes funerários fizeram, levaram o caixão e todos os equipamentos de limpeza e maquiagem do cadáver, mas, ao nota-los na mão do agente, ela o olhou e disse que a maquiagem não seria necessário e lhe passou o relatório do legista que ela havia pagado para recomendar lacrar o caixão devido ao possível contágio da meningite aos presentes no velório.
Os agentes então levaram para dentro do quarto somente o caixão no chão mesmo e o material de lavagem do corpo e depois na escrivaninha e deixaram a Srº Amélia sozinha trancada no quarto enquanto eles esperavam na sala tomando chá que a última governanta servia.
Sozinha no quarto com o marido decepado, a Srª Amélia preparou todo o ritual, retirou as roupas do marido, o lavou com um pano umedecido e depois, arrastou o caixão que estava no chão até a beirada da cama e rolou o marido sem cabeça até o caixão. Ele havia caído de bruços, e ela teve algum trabalho para revirar o corpo e coloca-lo em na posição normal. Em seguida ela pegou a tampa do caixão e o fechou.
Sentindo-se aliviada depois de todo o trabalho, ela abriu a porta do quarto e mandou os agentes funerários lacrarem completamente o caixão e prepararem o velório na capela do cemitério da cidade.
Enquanto os agentes funerários realizavam seu trabalho, a Srª ligou para a administração do cemitério da cidade e mandou preparar uma sepultura para hoje, eles disseram ser impossível, mas ela mais uma vez os subornou com mais um milhão, e tão logo o administrador do cemitério construiu de uma hora para a outra com a ajuda de outras pessoas um belo túmulo.
Em seguida a Srª Amélia novamente ao telefone ligou para todos os amigos e parentes do seu marido, e lhes contara toda a história de sua doença e a necessidade de se realizar o velório com o caixão lacrado. E que, devido à doença, o velório aconteceria hoje mesmo, por medo de contágio.
Muitos apareceram no velório e depois de algum tempo de cerimônia, a Srª Amélia enterrou o próprio marido, a quem a cabeça ela havia decepado e guardado como um troféu.